quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Desilusão


A mansidão
dissimulada
oculta a ferocidade
das minhas descrenças
Suspeito até
certa demência
na ausência
de convicção
Um furor avassala
a minha alma
e imagina-se
camuflado
por detrás da
aparente calma
dos olhos meus
Ninguém sabe
que queimo...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Penas


Ando a escrever com drama
a tingir-me os dedos
com a mais encarnada
das penas
que rasgam versos
É assim mesmo
que sempre quis
Línguas de fogo
a lamber-me o peito
em infindáveis madrugadas
Dentes afiados
a arrancar-me postas
De tal modo
que eu verto versos
e me subverto evasiva
É assim mesmo
que eu gosto
Doendo até o fundo
do cerne de mim
Demorar-me a morrer
faz de mim quem sou
Imprecisão fortuita
acelera o compasso
do meu peito aflito
ao adentrar no palco
A urgência é minha cena
o gemido o idioma
E a minha caneta
é vermelha...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Fome

Incauta
(de tanta falta)
tão pouco
lauta e farta
Eu desço do salto
Dispo-me
faminta
travo a luta
e de assalto
abocanho-te.
.
.
(Adiciono, para compartilhar da minha fome, a contribuição mais que bela de Rodrigo Passos)

Fome

Olhar, flora, gaiola, areia movediça.
Lábios sujos de uma boca de muitos sabores.
Erros de menina travessa que não gosta do não.
Mão, multidão, amor apócrifo de querer veloz.
Pele com medo de fora,
ave mal alimentada.
Tenda quente de vírgulas erradas.
Minhas últimas palavras,
sempre foram elas que mais me pertenceram.
Por que nunca Te disse?
Se sabia que dizendo, eu seria um só!

Rodrigo Passos




domingo, 11 de setembro de 2011

dúvida


Vai que esse poema
seja verso perturbado
e eu
equivocada
tento organizá-lo
Vai que esse apelo
seja vão de compreensão
enquanto arrisco
transcrevê-lo
Vai que esse ode
é anverso embaralhado
e torna-se avesso
E eu equivocada
e mal alocada
no universo
dos palavras
insisto no tema
das coisas
esquivas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Receita para setembro


Chris Chun

Pegue alguns passarinhos
de todos os tamanhos
Escolha os bem ruidosos
e junte às borboletas
Mas não guarde
nem faça nada
Pegue sem segurar
capture com o olhar
Separe umas formiguinhas
e abelhas pequenininhas
Adquira piados
coaxos e zunidos
Ouça de olhos fechados
e alma escancarada
Despeje alguns sorrisos
Uma ou outra gargalhada
Aqueça o sol por primazia
até dourar o coração
Assopre uma brisa fresca
e reserve muitas cores
[despreze o gris]
Salpique pétalas de flores
e espera...
Já já está pronta
a primavera...