sábado, 30 de julho de 2011

Para distinguir fingidores


Releve o sono leve dos meus demônios
Para que eu revele minhas veleidades
Exorcize de vez dispensáveis pudores
e exponha logo do que sou feita
Sequestre o resto do meu bom senso
Minimize o que tenho de melhor
e desvende de vez meus segredos
Dirima as dúvidas
para que não pairem equívocos
E quando me encontrarem
sem a máscara
me reconheçam
Esta sou eu.

sábado, 23 de julho de 2011

inteiros

Macha Kurbatova


Sei que sou
meio 
previsível
meio 
explícita
meio 
simplória
meio 
inocente

Mas 
minhas outras metades
não são.














                                                                                                                                                                  

sábado, 16 de julho de 2011

À fórceps


Urge fazer
poema
Qualquer poema
ainda
que seja este
esmigalhado
Arrancado das vísceras
Estropiado
Intra-uterino
Intestino
Sem lirismo
e sem doçura
Insensato
Semiacerbo
Intragável
poema
Extraído a força
por garras
que arranham
na mais profunda
das entranhas
Trazido esfarelado
redutível
Incomodado
Que se reinventa
ao nascer sem
rosto
Na sobrevida
de um parto
sem clemência.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sem estro



Ai

Adélia
você já sabia
que não adianta queijo
se não tenho fome
ou  qualquer desejo
Não há nome
ou codinome malfazejo
Sou só eu
que dispensei a faca
Declinei de abraços
e de beijos
E já não versejo
embora haja rimas
E aproveito o ensejo
para contar-lhe
repleta de pejo
Que Deus
anda a castigar-me
pois só vejo pedra
onde pedra
há.