Desenho de Maithe Masiero com intervenção digital
Eu precisava de um guarda-chuva para esses tempos chuvosos, cujas “águas de março” fecham muitas coisas, além do verão.
Ele estava lá, na frente da loja, aberto, lindo e colorido como um arco íris circular.
Como de cinza já bastam os dias de chuva, não tive dúvidas, comprei-o imediatamente, sentindo-me feliz como uma criança com seu brinquedo novo.
Nunca torci tanto para chover, e, na primeira garoa lá fui eu toda prosa para o trabalho, com meu poderoso protetor policromado.
Já no caminho percebi alguns olhares curiosos que ignorei, e, chegando ao trabalho, depois de devidamente “zoada” por colegas e estagiários, fui alertada que estava portando um símbolo gay.
Símbolo gay?
Que bobagem!
Óbvio que conheço a bandeira do arco-íris criada pelo artista Gilbert Baker (descobri isso pela internet). A bandeira com as cores do arco-íris foi usada na parada do orgulho gay de San Francisco e desde então foi adotada como um emblema da união dos gays do mundo todo.
Mas hellou!?!
Não sou porta estandarte de nada. De qualquer forma, vale ressaltar que o intuito dos vários matizes é exatamente chamar a atenção para a diversidade e a tolerância. Então, dá licença de eu usar meu guarda-chuva lindo e colorido, sem precisar ser rotulada? Gente chata!
Não me incomoda nem um pouco pensarem que sou gay, visto que não acho nada de mais nisso. Aliás, pouco me interessa a orientação sexual das pessoas nesse “mundão aberto e sem porteira”, e acho sinceramente, que cada um é dono da sua vida.
Interessam-me pessoas e seu conteúdo.
Dito isso, informo que todo o escrito acima, foi um preâmbulo, pois meu amigo Eraldo Rodrigues me propôs escrevermos juntos sobre homossexuais e suas dificuldades. Porque nós?
Não faço a menor idéia já que ambos somos heterossexuais, até onde sei.
Penso que é porque o Eraldo é um idealista, um militante ferrenho dos direitos humanos em suas infinitas nuances e tenho a impressão de que ele observou que partilhamos do mesmo respeito ao próximo, independente de raça, credo, cor, orientação sexual, nível social, econômico, etc., etc.
Abusada que sou, topei e arrisco-me então nessa brincadeira séria, porque também tenho grandes amigos gays e, apesar de não ser uma perita nesse universo, eu conheço e amo os meus amigos, portanto quero vê-los felizes e realizados.
Isso significa apoiar irrestritamente todos os “movimentos” que tenham esse poder, incluindo o casamento e a adoção.
Existe muita polêmica sobre este assunto especialmente (adoção), pois algumas correntes de pensamentos (tacanhos e conservadores), alegam que uma criança não deve ser adotada por casais gays, por conta da “dificuldade do reconhecimento perante a sociedade, da existência de um núcleo familiar homoafetivo”.
Ai ai! Quanta hipocrisia!
O outro motivo alegado, seria a consequência gerada aos adotados, já que ficam sem referências do modelo “aceitável” de família.
Heim?
Do alto da minha ignorância, gostaria de saber que “referências” são essas?
Que modelo é esse, especialmente nesse país, onde a família é uma instituição falida, onde crianças são abandonadas, jogadas fora ou criadas na miséria por mães adolescentes e/ou sozinhas, e em último caso, por instituições incompetentes? .
Isso é “aceitável”?
Quem poderá ter mais dedicação a uma criança que duas pessoas que se amam independentemente do sexo que tenham?
Não se pode ignorar o direito dos homossexuais à adoção e nem os benefícios trazidos à sociedade, em decorrência da formação de um novo lar aos adotados, isso é fato.
Lar é lar e o conceito de família tem quer ir além do gênero das pessoas que a compõe.
Digam-me ainda: Que criança não gostaria de viver num lar abastado de afeto e num mundo mais alegre e colorido?