De tanto buscar simplificar-me para alcançar a minha essência, tenho me esquecido da delicadeza dos pormenores. Do enfeitar as coisas só pela boniteza da belezura.
De tanto enxugar meus versos, tenho em minhas mãos uma esponja encharcada de poesias que escorrem pelo chão e o escrito está meio vazio de encanto. Já não tem pé-de-mel no quintal dos meus versos e as miudezas que enchem de graça a existência, estão fazendo jogo duro com a minha imaginação. A criatividade, que antes corria solta como bala de coco embrulhada com papel cor-de-rosa em festa de menininha, anda rareando igual água no sertão.
Eu fico então aflita, porque uma parte de mim quer produzir assim mesmo e a todo custo. Sou como criança manhosa e afoita, que não quer aguardar os “dispensáveis” confeitos, para engolir logo a guloseima. Assim, ando perdendo a chance de permitir que outros sentidos meus sejam felizes.
O essencial é muito puro, e pureza é coisa de anjos e santos.
Eu sou só humanamente prosaica, e meu eu precisa deleitar-se com os prazeres presenteados pelo criador através dos sentidos. Todos os cinco. Seis... Sete...
Experimentar todos os gostos, os luxinhos, as rendas e lacinhos, os batons e perfumes, a cobertura e os confeitos, pois que se o conteúdo for adequado, a alegoria só valoriza e se não for, nada vai disfarçar a feiúra, o gosto ruim ou o fedor.
Ou o vazio...
Porque então, não arriscar pela alegria? Mimos para a alma é do que precisamos. Todos nós.
Vou aprender de novo a ficar contente com as sutilezas e delicadezas e acolchoar de cortesias e arte meu despertar, porque uma coisa que o tempo tem me ensinado é que nem tudo que é aparentemente supérfluo é inservível, nem que seja apenas para deleite dos sentidos, e isso por si só já é uma incumbência muito digna.