A folha branca e virtual enfrenta-me arrogante. Desafia-me sarcástica e humilhante, reduzindo-me à mortalidade patética de quem não é nada se um anjo não insiste em soprar devaneios inspiradores a serem escritos. Poemas e palavras.
Ai, as palavras... Assuntos tantos, anseios tamanhos, receios maiores. Penso no mar e na maré. Penso. No vai e vem. Penso se o mesmo que vai será o mesmo que voltará. Penso que ando sem nada a dizer apesar de tantos sentimentos e momentos de revelações que me escapam quando por um segundo eu divago e disperso.
Hoje mesmo pensei na fé...
Por alguns momentos senti que não mais acreditava. Fugiu-me a fé? Talvez não, mas certamente evadiu a sensação de conforto de quando se tem certeza. Ter fé é ter sensação da condição do amparo incontestável e é este sentimento que não me acuso agora.
Meu radar anda falho para tantas coisas. Tantas. Sou uma bússola quebrada, desorientada. Desnorteada é como me sinto. Descrente? Não Dele. Descrente de mim que ando pela vida cometendo enganos que se não são grandes vilezas, também não tão prontamente perdoáveis.
Ando cansada de esmurrar sacos de areia que me revidam na mesma proporção, mas sem nenhuma emoção, o que me transforma na única que me espanca.
Flagelo-me, cortando-me com a pena, sem pena. Pena!
Não entendo bem a vida e não compreendo Deus. Eu sinto um tanto de desprezo e amor pela humanidade e ando usando demais o adjetivo "comovida", pois é assim que tenho me sentido.
Comovida! Com tudo!
Comove-me a velhice, comove-me a doença, comove-me a poesia, comove-me a humanidade com suas benevolências e suas barbáries. Ando comovida demais e envolvida de menos com a vida. Comovida e sem-i-vida, o que me faz quase morta. Quase.
Palavras não me comovem agora, mas poemas sim. A morte não me assusta, mas um poeta sim.
Ando meio esquisita, gostando menos de pessoas reais e mais de pessoas virtuais. Ando rindo através de teclinhas (hahaha, kakaka, kkk rss, uashuahsua - essa última é mais difícil de escrever), entre outros recursos que utilizo no meu teclado, que tem sido leme que determina por onde navego nessa viagem de poesias, imagens e pessoas que nem conheço... E muitas delas, me enternecem.
Estou ganhando da folha branca, que incrédula me pergunta como me atrevo a escrever acerca de nada. Ela não sabe da beleza do vazio, pois o "nada" pode ser tão interessante, tão incondicionalmente preenchível que permite discorrer enfática sobre ele. O nada é a possibilidade total.
Sobre nada de fé, nada de foco, nada de estrada. É estar numa campina enorme. Estática, paralisada e não ver caminhos. Não existem trilhas que dê indícios para onde ir. Não se vê rastros nem pegadas que sinalize para onde seguir.
Então, sigo escrevendo assim só por pirraça. Porque, teimosa como sou, não vou deixar que uma folha branca e arrogante me acue e me amedronte.
Se não há caminhos demarcados posso ir, pois, para onde eu quiser. Todo rumo que eu seguir há de me levar a algum lugar.
Estou indo então, e quando chegar - se chegar - eu mando dizer como é lá.
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