segunda-feira, 28 de setembro de 2009

cuidado...



Nunca é tarde pra se perder na vida
Até hoje eu tento andar nos trilhos
pois que qualquer distração eu descarrilo
e me acabo num vício ou num exílio.

Nunca é cedo pra se perder o bonde
Não existe um só ponto sem perigo
pois que qualquer desvio, um desatino
virá nas noites más um bom castigo

O destino é traiçoeiro e ardiloso
é uma rede tecida com finos fios
romper-se a trama é fácil e perigoso
mergulho sem volta em denso rio

Cuida bem, pondera, pensa muito
porque num instante tudo está perdido
É sutil o portal entre o que não presta
e a armadilha sedutora dos sentidos

A munição é pesada, a guerra, insana
Eu mesma me vigio todo dia
e todas as noites eu me policio
pois que senão me entrego aluada
às tentações devassas e mundanas
e me abandono às perdições desavisada
e inexoravelmente desvario....
.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Chorinho



Vai-se nume
sonho e encanto
Vem silêncio
e afasia
Decanto
sem canto
e sem poesia
Me faço água salgada
Que bóia
dos olhos da alma
e entorna...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

FALTA FALTA


Flor do cerrado - imagem gentilmente cedida por Jorge Stark Filho


Ando sentindo falta da falta tua
Da falta que me fazias
Da tua falta que me inspirava
nas jornadas da elegia
Mas depois de desesperar
da tanta falta que havia
parece que fiquei vazia
Despoemei as entranhas
Já não mais me acometia
o antigo e estóico lirismo
E a linguagem se atrofia
Estando então eu assim
tão oca e despreenchida
da tua falta em mim
desencantei da poesia.
.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Paranóia


Esse cartum é uma lembrança inestimável da minha adolescência

Em minha psicose crônica
e sintomática
Me sinto perseguida por poesia
Defasada da realidade
Sou dramática
Incoerente
cheia de mania
Tenho doce personalidade
Mas carrego em mim
um pouco do demente
De convicções suspeitas
e anormalidades
Com defeitos pessoais
e socialmente
Melindro-me
sensível e desconfiada
Meu isolamento
é bem perceptível
E estão em todos
os meus sinais
E nesse meu
comportamento
discutível
Multicolorido e dicróico
Não passo de um cartum
uma chacota
Sou como Ubaldo
- o paranóico - .

.
.

domingo, 13 de setembro de 2009

Detalhezinho sutil...

Como saber que não é anjo

se o demônio é gentil?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Nos bailes da vida...

Milton Nascimento não falava a sério quando compôs "Nos bailes da vida", especificamente no verso que fala que "para cantar nada era longe"...

Já viajei em boléia de caminhão quando o ônibus de uma Banda que cantava quebrou, passando por poucas e boas, nessa vida de cantar. Mas no último fim de semana eu ultrapassei meu recorde de acontecimentos curiosos. Fui cantar em Roraima.

Alguém tem noção? É longe, muito longe! Não tanto se você está em Manaus, mas se você está em São Paulo, é sim! Congonhas-Brasília, troca de avião para Manaus e então para Boa Vista.

Por pura curiosidade, antes de ir, fiz uma pesquisa criteriosa para saber quem conhecia Roraima. Ninguém! Ninguém das minhas relações, ninguém que eu tenha visto ou encontrado já tinha ido à Roraima. Nenhum de meus amigos mais viajados, que conhecem cada cantinho do Brasil e do mundo... Roraima, decididamente não! Ninguém!

Pois eu digo que estão perdendo. Tem quem chame de "fim de mundo", mas eles se vêem como o Portal de entrada do Brasil, e não estão de todo errado, se você estiver vindo da Venezuela fugindo de Hugo Chávez.

Alguns fatos engraçados me deram vontade de escrever esse texto, nada poético. Primeiro que eu saí de um frio bárbaro em São Paulo e caí num calor alucinantemente úmido de quase quarenta graus em Boa Vista. A sensação térmica era de sessenta. Não reclamo, pois nunca reclamo do calor, só do frio.

Isso me fez lembrar o meu amigo virtual Flavio Ferrari que sempre que pode, foge do frio e nos "esnoba" pelo seu blog (arguta.blogspot.com). Pensei em fazer o mesmo, mas o calor de Roraima não é coisa de se esnobar. É de sufocar e procurar o "freezer" mais próximo.

Outro fato engraçado foi a "caravana" de japoneses.
Eles fazem excursões até para Roraima, gente!
Vão em "bandinho", munidos de uma parafernalha de equipamentos tecnológicos de última geração (câmeras de fotografia, de vídeos, binóculos, etc). Tenho quase certeza de que eram os mesmos que encontrei há muitos anos atrás descendo de uma "Van" na frente da Catedral de Notre-Dame.

Não foi possível tirar a dúvida, (não porque eram todos parecidos), mas porque a maioria estava de máscara para se proteger da gripe "suína". Eles saíram de São Paulo de máscara e desceram no aeroporto de Boa Vista (mais de oito horas depois), com a mesma. Aquilo devia estar um criadouro de germes e bactérias, mas eles estavam se achando protegidíssimos.

Conhecer Boa Vista foi um enorme prazer. Uma cidade em desenvolvimento, com um traçado urbanístico moderno, avenidas muito largas e com grande potencial financeiro para os "muito" resistentes ao calor.

O Território de Roraima passou a ser Estado do Brasil há cerca de 20 anos se tanto, e tem belezas naturais indiscutíveis e 99% de sua área é de Preservação Permanente e Reservas Indígenas.

Tem um excelente comércio na fronteira da Venezuela (parecido com o Paraguai, mas de qualidade mais confiável), segundo nosso guia. Infelizmente não tivemos tempo para compras e lazer, a não ser uma peixada maravilhosa na orla do Rio Branco.

O povo local é bastante hospitaleiro e carinhoso, mas ninguém é da terra. Ao menos não conheci nenhum boa-vistense(?) da gema. Todo mundo veio de outro Estado, a não ser os índios e ribeirinhos.

Roraima é a terra dos Yanomamis (lembram-se do Raoni?), entre outras várias tribos menos pops.

E a poesia, nisso tudo?
Compartilhar!

Compartilhar é poesia! Viajar é poesia! Olhar a Amazônia de cima e ver o encontro do Rio Negro com o Solimões é poesia! Estar na única capital do Brasil acima da linha do Equador não é poesia, mas é legal.

Cantar em Roraima e agradar foi pura poesia.

Mas que é longe, é...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

PRIMAVERA

Em setembro
eu desperto e desabrocho
Eu renasço
Para aguardar a primavera...
Visto um jardim
numa saia de algodão
E rodopio de pés no chão
Ponho a rede no quintal
Me disfarço em passarinho
Me pinto de borboleta
E colorida me diluo
me desfaço em todas
as cores da paleta
Para aguardar a primavera...
No equinócio reapareço
Sou Venus
Fico bela
livre e contente
resplandeço
Sol em Libra
Viro vida ensolarada
Foi-se o frio
Valeu a espera
Vou por aí apanhar flores
Que venha enfim
a primavera!

domingo, 6 de setembro de 2009

memória fraca

Tentei anotar, mas que pena
Não achei nenhum papel
Perdi mais um poema...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Perigosa...

Quero um poema
que te atinja em cheio
Que te parta ao meio
Que te alcance a fonte
Um poema perverso
que te desmonte
e cutuque a fera
arranhe a ferida
te separe em partes
e te transforme a vida
Quero um poema
que te infeste a alma
Feito culpa, peste, palma
Que te contagie, contamine
arrase, e te dilua
Quero o poema
que te destrua
Que seja definitivo
Pra te trazer enfim
para que eu te cure
e te refaça inteiro
Pra que eu te reconstrua
só para mim!