terça-feira, 30 de junho de 2009

Monalisa

Fernando Botero
Meu semblante debochado
Que eu até já conhecia
Nem sempre me acometia
Por conta da verve dramática
Sou mesmo um tanto sarcástica
Mas por conta da elegia
Ando perdendo a piada
pra não perder a poesia...

domingo, 28 de junho de 2009

me responda...


O que significa quando você fala?
E o que tenta dizer quando se cala?
O que enxerga quando fecha os olhos?
E quando se abrem, como foram os sonhos?
Se existem magoas por quem deságuam?
Se não existem mãos, como te afagam?
Qual é o caminho que te orienta?
Qual a mentira que você mais inventa?
O que você sente quando se levanta?
Pelo que chora quando não adianta?
Os seus sapatos e o seu coração,
Será que moram juntos ou não?
Quem é você quando ninguém está perto?
Como se sente quando nada é certo?
Qual é a lenda em que mais acredita?
Qual é o seu mantra quando medita?
Quais são as bênçãos que sonhou para si?
E as pessoas que quer ver partir?
Qual seu desejo quando raia o dia?
O que mais motiva e dá alegria?
Qual é o medo que mais paralisa?
Qual é o gesto de que mais precisa?
Qual a palavra que mais você gosta?
O que nunca perde quando aposta?
Qual a sorte que mais ambiciona?
Qual a presença que mais te emociona?
Qual a ausência que mais te machuca?
Qual é a vara que mais te cutuca?
Quais as bagagens que deixou na estrada?
Na sua areia, quem deixou pegada?
Qual o sentido que faz sua vida?
Você conhece a porta de saída?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Palavras ao vento...

Não temo a dor que não me mata Melhor a dor que me emociona Navego em rotas clandestinas e acostumada estou as intempéries de oceanos densos perigosos Me dou bem nas tempestades Vou por caminhos periféricos e não me envergonho ou me entristeço mais Não há vaidades dúvidas ou ego e vendavais não me intimidam Mas eu tenho a minha musa intocável e o meu tamanho é desimportante diante do universo infinito do poema Posso ter a medida da baleia ou a estatura de um plâncton Lutar com a fúria da água ou juntar-me a ela Irrelevante Só a Poesia transcende a dimensão É por ela que eu vivo e a vida é curta E um poeta perdido é quando muito E um poema perdido é quase tudo E se for me fazer mal que seja feito... Quero de volta o leme da poesia Pois que o verso é o relâmpago que me acende é único farol que me guia na secreta escuridão em que me oculto.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Reminiscências...

Elton John foi minha primeira paixão! Quem diria que eu confessaria isso aqui assim tão corajosamente? Pois é, aos 11 anos eu me apaixonei por Elton John e sonhava conhecer o cara que cantava com aquela voz cálida e tão máscula o hit do momento, que era a música “Goodbye Yellow Brick Road”. Paixão platônica. Menina ingênua (juro) nem imaginava as nuances dos desejos humanos e nada sabia sobre homossexualismo. Naqueles tempos só sabíamos o que aprendíamos nas brincadeiras de rua, nas conversas com as amiguinhas e posso jurar que este não era um assunto de relevância, ao menos para nós. Nada disso foi explicado em casa ou na escola e, portanto nem desconfiávamos. Talvez até fosse um tabu na época e como não existia a internet com sua ilimitada enciclopédia mundial e seus sites de relacionamentos além de outras diversas possibilidades, não tínhamos como saber de muita coisa além do nosso universo restrito. Também não existiam canais de fofocas nem TV a cabo. Como será que sobrevivemos a isso? Nossa única semelhança com as meninas atuais é que até hoje, se uma garota tem um ídolo, ela tem esperança (leia-se "obsessão") de que um dia irá conhecê-lo e ele se apaixonará por ela. Era assim comigo e com Elton. Não me lembro de jamais ter visto seu rosto totalmente. Apenas nas fotos esdrúxulas das capas de seus discos de vinil, que eu, menina de cidade do interior e filha de professores, pouco tinha acesso. Chegavam até nós, algumas coleções de música clássica que meu pai comprava com dificuldades semanalmente ou quinzenalmente nas bancas de revista. Tínhamos também uma coletânea da Abril Cultural de MPB que me possibilitou ser apresentada aos clássicos da nossa música popular, desde Ari Barroso, Noel Rosa, Dolores Duran, Herivelto Martins entre outros, passando pela bossa nova chegando até a tropicália. Não posso negar que isso me trouxe uma boa bagagem cultural e agradeço a meu pai por isso, mas eu queria mesmo o vinil do tal inglês. Depois de tanto pedir, ganhei enfim o Long Play “Goodbye Yellow Brick Road” no meu aniversário de onze ou doze anos. Quanta emoção! O primeiro LP ninguém esquece! Eu ouvia na "vitrolinha" coletiva que eu e meus irmãos tínhamos ganhado no natal anterior. Aquele homem cantando me encantava, e eu decorava as letras que nem sabia o significado e lembrando-me agora do último show dele recentemente no Brasil, que foi televisionado com a legenda das letras traduzidas, melhor a ignorância. Naquele tempo, até chorava comungando a melodia com minhas emoções hormonais. Percebo hoje, que isso começava a delinear que tipo de mulher eu seria. Não pelo fato de gostar de pop inglês ou da música, mas pelo tipo de pessoa que me atraia. Nada de óbvio. Não gostava do menino bonito da “Família do-ré-mi”. Imagine! Não tem a menor graça! Eu tinha mesmo é que me apaixonar pelo homossexual inglês, problemático, que gostava de sapatos plataforma, chapéus e óculos gigantes. E nem bonito era, coisa que só ficou explícita, muito tempo depois. A beleza nunca foi apreendida por mim da forma genérica e acho positivo que existam pessoas de “gosto duvidoso”, pois que a unanimidade tira as chances do que é diferente e fora dos padrões. Entendo estética como sendo extremamente pessoal e no meu caso talvez seja atávico. Desculpa vô. Infelizmente, ou felizmente, minha paixão por Elton foi substituída rapidamente quando meu pai apareceu em casa com o LP “Construção” de Chico Buarque que tinha sido lançado alguns anos antes, em 71. Paixão fulminante que confesso, sem reservas, resiste até hoje. Posso até afirmar que Chico Buarque foi o grande amor da minha vida e que tive que terminar com ele por conta da unilateralidade. Neste caso, devo render-me à unanimidade e até por isso, não houve muitos problemas quando "namorávamos". Meus pais até aprovavam “nosso” amor, mas cansei de sofrer pela falta da contrapartida. Como nunca gostei de solidão, na minha leviandade de menina, logo depois de "terminar" com Chico Buarque, quase apaixonei-me novamente. Agora por um outro inglês, também estranho, chamado Freddie Mercury, que na época tinha cabelos compridos e usava um macacão branco decotado e colado ao corpo e era vocalista do Queen. Seus trajes eram um pouco ousados, mas muito interessantes. Ainda não sabia que ele também não era “hétero” (acho que nem ele sabia), coisa que muito pouca diferença faria na minha vida, até que descobri que ele era casado. Não podia gostar de homens casados. Era uma menina "direita" e, portanto abdiquei estoicamente de Freddie. Totalmente desiludida, comecei a ler poemas e volúvel com sou, de cara me apaixonei por Vinícius de Moraes, que além de poeta, era compositor e boêmio, coisa que sei lá porque, me atraiu muitíssimo. Na época, acho que ele estava separado da oitava mulher e jurei para mim mesma, ainda menor de idade, que iria conhecê-lo e seria a nona e última esposa dessa enorme lista. Parece que ele se casou de novo (não foi comigo), e faleceu antes de saber das minhas intenções! E assim, sem mais nem menos fiquei viúva do poetinha. Em 09 de julho de 1980 (data de falecimento do Vinícius) eu desisti de ter ídolos, mas continuo apaixonada por Chico Buarque.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

sobre mim



Tenho o coração barroco e rebuscado
com santuários góticos depredados
Pelo lirismo afoito dos amantes
E medonhos sonhos de infantes
cheios de eufóricas e ornamentais tormentas.

Adolescente pasmo ante a renascença
Cego-me defronte ao iluminismo
sem conseguir alçar o céu impressionista
Comove-me minha verve da descrença
 e o fatalismo romântico e escapista,
de ideal e sentimentalismo.

Mas também sou lá de sutilezas e metáforas
E por vezes me entalho um verso a canivete
Importa só que sangre todo dia
 e durante algumas horas da viagem
Para que a ferida nunca cicatrize
E que o poema sempre se apresente
numa dramática e dolorosa
tatuagem.

domingo, 14 de junho de 2009

logomaquia

CARAVAGGIO: Judith Beheading Holofernes.

Será que faço poesia?
Suspeito ser só mania
Ou mesmo idiossincrasia
Para simples proteção

Poetas são os “Pessoas”!
 “Drumond” é que é poesia!
 Escrevem com pura magia
Dia e noite
Noite e dia
Como uma religião
Eu sou somente aprendiz
Padeço de sazonal elegia
Escrevo pela hipalgesia
Para ficar bem vazia
de dor e de emoção
Não Não faço poesia...
Só sofro de lirismo-bulimia...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Quando eu canto

Juro que não estou me gabando, mas fico impressionada com minha própria "capacidade" mental de pensar (pleonasmo hiper vicioso) e fazer várias coisas ao mesmo tempo. Não significa obviamente, que sejam todas profícuas ou positivas, muito menos que eu seja competente por conta disso. Pelo contrario! Me vejo atolada e atordoada com tantos pensamentos durante alguma atividade e isso me faz perder o foco, diluindo minha atenção. Explico-me. Na véspera de feriado, fui contratada para cantar num hotel bem bacana em Campos do Jordão, cujos responsáveis calcularam mal a "animação" dos hóspedes que estavam chegando para o feriado de "Corpus Christi". Promoveram várias atividades, entre elas uma cantora (eu) e um pianista no bar da lareira. Quem conhece Campos sabe que é uma cidade bastante fria nessa época do ano e o chamado bar da lareira desse hotel especificamente, é bastante aconchegante. Já cantei ali várias vezes. O fato é que os hóspedes passavam sucessivamente pelo bar em direção ao restaurante, ouviam um pouquinho de música e iam jantar. Esvaziava de novo. Tudo bem, pois depois do jantar, é de praxe parar por ali, tomar um licor, fumar um charuto (hargh!), e curtir uma "boa" música. Alguma coisa deu errado... Eles jantavam e desapareciam. Especulei o que poderia ser. Talvez porque o bar da lareira era o lugar onde os apreciadores de charutos se encontravam e agora é proibido fumar no local que antes era destinado a eles. Confesso que para uma cantora, isso é muito melhor. Cantar e inalar fumaça de charutos cubanos é difícil... Enfim, o fato de ser proibido fumar ali pode ser um dos motivos do esvaziamento do local. Tentando ser justa, imaginei se eu estava cantando mal, ou se o repertório não era do agrado, ou quem sabe, (amenizei para o meu lado) estavam apenas, todos muito cansados da viagem já que a faixa etária de frequentadores do dito hotel é bem acima dos quarenta. Enfim, cantei a noite inteira para meia dúzia de "gatos pingados". Isso não me afeta muito (só um tantinho), mas a troca de energia numa apresentação é cinqüenta por cento do sucesso dela. Quando a voz vem do coração ela é muito mais bonita. Quando parei de cantar em bailes, alguns anos atrás e resolvi cantar em bares, já se foram centenas de madrugadas e já houve muitas noites memoráveis e outras nem tanto, em que cantava para manobristas e garçons. Não que estes trabalhadores da noite não mereçam um tostão da minha voz, mas é muito frustrante quando acontece de não ter público. Existe só uma coisa pior que falta de público, é quando eles estão presentes só de corpo. Como diz Jô Soares, é quando a platéia não é talentosa. Não vou me culpar, porque na maioria das vezes o meu repertório funciona muito bem para esse trabalho. Voltando ao que eu queria dizer, é que enquanto eu cantava, tudo isso me veio à cabeça e não sendo o suficiente para me distrair, ainda comecei a filosofar acerca da vida. Fiquei pensando porque estamos por aqui, nesse planeta de provas e expiações, e o que fazer quando não se tem mais grandes paixões, nem muitos sonhos, nem motivação. Eu cantava e pensava (ao mesmo tempo e sem controle), como viver é sem sentido, e o quanto estou me sentindo triste sem saber bem por quê. Provavelmente, se o bar estivesse cheio, com pessoas ouvindo e apreciando eu me sentisse diferente, mas naquele momento me veio essa dor das dúvidas existenciais. Tudo tem passado muito rápido e pouco consigo reter. Junto com cantar, ler a letra (porque eu não consigo decorar nenhuma), sentir-me depreciada e filosofar, eu ainda tinha um poema que insistia em querer se fazer, mas que eu o detive antes que me perdesse ainda mais. Era um poema sobre quem não está mais amando ou apaixonado por nada nem ninguém e o quanto isso torna a vida estranha, triste e sem sentido. É como ter desistido de viver. Era um poema sobre um amor que saiu à francesa, foi deixando o outro devagarzinho, até desaparecer, não sem antes magoar bastante. Um poema de sobrevivência. Enfim, ele não sobreviveu. Morreu antes de nascer. Existem poemas assim... Que ficam morando só no pensamento e depois dispersam-se como as sensações momentâneas. Esse escrito é só um texto sem compromisso, sem intenção. É só um desabafo esquisito, uma constatação do quanto tudo é efêmero. Só pra terminar de compartilhar meu desvario noturno, enquanto fazia tudo o que já descrevi, ainda notei quase sem querer, a ostentação das pessoas entre botas caras, casacos de peles, bolsas de grife e me veio à cabeça os milhares de brasileiros que passam fome e frio e o quanto esse nosso país é desigual e injusto. Acho que não quero mais cantar...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Abusada



Quero voltar a ser menina
não de sete, nem dezessete
Menina mulher de vinte e sete
Pronta para os pecados
cometendo-os pela vida
Namorar as escondida
 e passear aí pouco vestida
transparente e enfeitada
Quero muito beijar na boca
Ter ao menos três namorados
um pra de noite e dois para o dia
e um amante por garantia
para um momento de solidão
Pois se eu não for muito amada
que seja ao menos desejada
Ou no mínimo bem usada
bem mimada
bem beijada
Só não quero ficar guardada
na prateleira de um coração.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Vacância


Desisto da vaga anteriormente desejada
Meu currículo atende muitos requisitos
Mas o perfil do patrão
não se encaixa mais aos anseios
da candidata.